sábado, 30 de junho de 2012

Resenha: Saint Seiya [JUMP Weekend]


Dia 02 de Julho é o aniversário de 44 anos da Shounen JUMP, antologia de mangás mais vendida e que deu a luz a vários clássicos. Em comemoração, vários blogs brasileiros decidiram dedicar um ou mais posts a um tema relacionado à revista neste final de semana, o JUMP Weekend, e eu escolhi escrever sobre o famoso Saint Seiya. No fim do post está a lista dos blogs participantes.



Saint Seiya (SS), conhecido aqui com os Cavaleiros do Zodíaco, é um clássico no Brasil. Não foi o primeiro  anime a ser exibido aqui e nem o primeiro a fazer sucesso. Na década de 80, por exemplo, animes como Patrulha Estelar (Uchuu Senkan Yamato), Don Drácula e Pirata do Espaço (Groizer X) foram exibidos na TV aberta. Mas SS foi o primeiro a virar moda e gerar grande repercussão, inclusive gerando a revista Herói, que foi o produto com o qual a editora Conrad, que viria a lançar o mangá de SS, começou. Aliás, SS e Dragon Ball foram dois dos primeiros mangás lançados pela Conrad e foram os responsáveis por criar as condições para o nascimento de um mercado de mangás de verdade no Brasil, já que antes da vinda destes títulos tínhamos apenas iniciativas isoladas e que não chegaram ao mainstream.



18 anos depois da primeira exibição de SS no Brasil e mais ou menos 10 da chegada do mangá, que incluía o último arco que não havia sido animado, a série divide opiniões. E não me refiro ás brigas entre fãs e haters, que costumam odiar séries que nem acompanham. Apesar de existirem sim os haters, o que interessa é um fenômeno singular que acontece com SS, e que começa a aparecer também em relação a Dragon Ball. Cavaleiros foi o primeiro anime de muita gente. Além disso boa parte dos fãs assistiu quando ainda era criança. Quando este pessoal hoje em dia assiste a série, duas das reações mais comuns são: achar o anime muito ruim e se perguntar como gostava daquilo ou achar a maior das maravilhas.

A meu ver ambas as reações são equivocadas e são efeitos diferentes da mesma causa: a memória afetiva. Quando crianças, assistiram SS e gostaram. Muitos compraram bonecos e brincaram na rua de cavaleiros. No primeiro grupo, o que ocorre é um ruptura entre a memória afetiva e a opinião das pessoas ao assistir o anime novamente. Na cabeça deles, o anime era tudo de bom e quando hoje, mais experientes, percebem os vários defeitos da obra, acabam superestimando os mesmos e fazendo-os ignorar os méritos. Isso costuma ser pior entre os que assistiram mais animes, já que têm mais base para comparar. Já no pessoal do segundo grupo, a memória afetiva, que costuma se associar ao saudosismo, traz de volta toda a admiração da infância, que os faz ignorar os defeitos. A meu ver isso leva as pessoas a formarem opiniões sobre o anime fora da realidade.

O mangá



Começarei escrevendo sobre o mangá, escrito por Masami Kurumada e foi serializado na JUMP entre 1986 e 1991. Mas primeiro, uma sinopse da wikipédia: 

Seis anos antes dos eventos descritos pela série, cem órfãos do Japão são enviados para diversas partes do mundo para que se tornem lendários guerreiros conhecidos como "Cavaleiros", soldados sob o comando da deusa grega Atena. Tais guerreiros são protegidos por uma constelação celestial.

O poder dos Cavaleiros se origina do entendimento da natureza do "Cosmo", uma essência espiritual que teve origem com o Big Bang. O conceito do "Cosmo" dita que cada átomo do corpo humano é similar a um pequeno sistema solar, e como o corpo possui biliões de átomos, sua totalidade forma um "pequeno Cosmo" ou um "pequeno universo". Cada pessoa possui um Cosmo único, e os Cavaleiros são capazes de utilizá-lo para realizar actos sobre-humanos.


O foco da história é em um dos órfãos chamado Seiya. Enviado para o Santuário na Grécia para se tornar o Cavaleiro de Pégaso, ele cumpre sua missão após seis anos de treinamento e retorna ao Japão para rever sua irmã mais velha. Como a mesma desapareceu no mesmo dia em que Seiya viajou para o Santuário, Saori Kido, a neta do homem que enviou todos os órfãos para treinar, faz um trato com ele e o convence a participar da Guerra Galática, um torneio que reúne os órfãos que se tornaram Cavaleiros para que se enfrentem em busca do prémio: a Armadura de Ouro de Sagitário. Se Seiya participasse e ganhasse, Saori iniciaria uma busca por sua irmã.

Durante a série, Seiya se torna amigo e aliado de outros Cavaleiros de Bronze: Shun de Andrômeda, Shiryu de Dragão, Ikki de Fênix e Hyoga de Cisne. Juntos, eles lutam para proteger a deusa Atena de qualquer perigo, assim como seus antecessores fizeram durante milénios.

Bom, guerreiros protegidos por estrelas não eram novidade. Já haviam aparecido em Hokuto no Ken. Aliás, o meteoro de pégaso, golpe principal do Seiya é baseado no Hokuto Hyakuretsu Ken do Kenshiro. A grande sacada do Kurumada foi perceber a relação entre as constelações e as mitologias, especialmente a grega. Com isso, ele conseguiu criar uma ambientação muito legal e criativa. Toda a ideia dos cavaleiros (Santos no original), das armaduras (Cloths no original) e dos golpes especiais foram muito boas. Ao aproveitar o famoso ki e o transformar em cosmo, ele criou uma nova forma de energia que não se limitava às artes marciais tradicionais e que podia gerar vários efeitos diferentes, como calor, frio, manipulação de almas e etc. o que era novidade na época.


O grande problema é que o Kurumada era um roteirista ruim com uma ótima ideia. As 3 sagas do mangá resumem-se a: Atena está em perigo e os heróis vão ter que passar por várias casas, templos ou que o valha, cada um com um guardião para chegar até o vilão final e salvar Atena. Não há variação, não há exploração do mundo e aventura como em Dragon Ball e os personagens tem pouco espaço para interagir entre si e crescer, já que estão sempre se separando para lutar. Isso é amenizado porque naquela época não existiam muitos outros shounen de ação modernos, então até isso era mais ou menos novidade. Mas estamos em 2012 e esse aspecto envelheceu mal.

Outra coisa que envelheceu mal foram as batalhas. Apesar do cosmo ser bastante versátil, a maioria dos combates se resumia a trocas de golpes e golpes especiais. Os protagonistas ou ganhavam com facilidade ou apanhavam bastante para eventualmente elevar o cosmo e vencer o inimigo com um golpe. Lembro somente de uma luta na qual foi usada alguma estratégia.

O mangá tem mais um problema no roteiro: a falta de consistência. O Kurumada fez os heróis enfrentarem inimigos que eram para estar no topo dos níveis de força no final da primeira saga. Quando chegam as outras sagas, os inimigos já não podem superar este nível, então os heróis meio que perdem um pouco da força. E o pior é que eles tratam os caras que eles mesmo derrotaram com o respeito que se trata um cara do qual vc não pode ganhar. E isso se repete mais de uma vez.


A arte do Kurumada tem seus pontos positivos e negativos. O design das armaduras é inspiradíssimo e o efeito que ele usa para mostrar que são feitas de metal é coisa de especialista. Os cenários são bem desenhados e seguem a inspiração da ambientação. O problema é que o design de personagens dele é ruim. Em primeiro lugar, é feiinho. Os personagens tem o tronco muito largo e os rostos são simples demais. E em segundo, os personagens são muito parecidos entre si. 

Em geral, os personagens são carismáticos, mas são todos unidimensionais. E nenhum deles se desenvolve muito além do conceito inicial. E o Kurumada ainda utiliza mal boa parte do elenco, especialmente os adversários do final da primeira saga, que continuam a aparecer.

Por todos estes motivos, não dá para fazer como os saudosistas e considerar SS um mangá perfeito. Longe disso. Mas também não dá para ignorar que ele tem vários méritos, mesmo que alguns tenham sido desgastados pelo uso excessivo em outras obras do gênero. SS é um mangá que vale a pena ler se você é um fã de shounen de ação, gostou do anime ou se interessa pela evolução do gênero de ação shounen.

Avaliação: Regular

E o anime?



Para o anime, exibido entre 86 e 89 chamaram o finado Shingo Araki para fazer o design dos personagens. Foi uma decisão acertada. Os personagens no anime ficaram muito mais bem desenhados que no mangá, sem perder a qualidade nos cenários e nas armaduras.

A animação ficou na média para um anime da época. As dublagens japonesa e brasileira são muito boas. A trilha sonora também é excelente, com músicas que misturam música clássica e rock oitentista, incluindo a clássica Inside the Dream (a que a mulher canta lalalari). Os temas de OP e ED são muito bons também e são clássicos das músicas de anime.

Apesar do anime ter corrigido os defeitos na arte do mangá, ele possui os mesmos defeitos de roteiro. E o pior, a adição de fillers, para evitar que o anime alcançasse o mangá, acaba criando buracos no enredo e aumentando as inconsistências. Fora a enrolação nos episódios que não são filler. Para o leitor ter noção, em um luta no mangá, o Seiya leva um golpe umas 3 vezes antes de contra atacar. No anime ele passa quase dois episódios só nessa parte. Obviamente ele leva o golpe muito mais de 3 vezes e o anime abusa das mudanças de cena e dos closes nos personagens para ganhar tempo. Chegaram até a criar uma saga filler inteira, que possui boas idéias e adversários, mas tem os mesmos problemas de roteiro das sagas originais.



Para completar, o anime original não adapta o mangá completamente. A última saga teve que ficar para uma série de OVAs que só começou a sair em 2002. Os 13 primeiros capítulos, que adaptam a primeira parte da saga, foram feitos em altíssima qualidade visual. Infelizmente, o resto da saga não teve o mesmo tratamento, tendo uma animação bem fraca. Além disso, vários dubladores foram trocados na versão japonesa dos OVAs

Saint Seiya não é um anime ruim. Mas assim como o mangá, tem muitos defeitos e não envelheceu bem.

Avaliação: Regular


Blogs participantes do JUMP Weekend:


Another Warehouse  Beelzebub | Kagami no Kuni no Harisugawa
Mangathering  Sket Dance
Hakuren - Mangás de Esporte da Jump
Mangás Cult  Houshin Engi | Cenas de Mangás que Merecem Serem Lembradas: Especial Shonen Jump
Sakazuki – Eyeshield 21
AnimePortifolio  Rurouni Kenshin
Puff no Piripaf  Yu Yu Hakusho
Shonen a Cabo  Death Note
Anikenkai - Bakuman
Show de Mangá  Dr. Slump
Realidade ou Ilusão  Naruto
Mangatologia  3 Primeiras Décadas da Jump
Netoin!  Yu-Gi-Oh!
Visual Novel Brasil  Gintama
Chuva de Nanquim  Majin Tantei Nougami Neuro
Omnia Undique  Ultimate!! Hentai Kamen
Anime Freak Show  I”s | Slam Dunk
Xtreme Divider - Toriko | Katekyo Hitman Reborn! | Hikaru no GO
Nahel Argama - Nisekoi
Geekomics - Busou Renkin
Shonen Mania  Magico | Bleach

2 comentários:

  1. Saint Seiya formou a infância de muita gente que lê mangás atualmente. Isso não se pode negar. Gostei muito do post e ainda mais falando a respeito das lutas, que eram sempre repetitivas, mas quem era criança na época, achava incrível!

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